domingo, 18 de maio de 2014

Mulher da Língua Afiada




Porque sondas, ó, comadre,
As roupas do meu varal?
Não vês, a chuva já molha,
As tuas no teu quintal.

Enquanto tu comentas
A conduta das meretrizes,
Talvez seja um despeito,
Pois elas são mais felizes.

Quando o grupo se reúne
No portão pra conversar,
Já se sabe, com certeza,
Da vida alheia vão falar.

Cuidam da vida dos outros,
Com muita  maestria,
Para provocá-las a falar,
Basta só dar um bom dia.

O comentário infundado
É diário e constante.
Pouco sabem sobre si:
Dos outros, sabem bastante

A gente vê, e é até comum,
Depararmo-nos com tagarelas,
Que falam demais dos outros,
E não querem que falem delas.

Pois veem defeitos em todos,
Até os das próprias amigas
Só não olham para dentro:
Têm mentes adormecidas
  
Um dia ela perguntou
A uma pessoa, assim:
Como agente da saúde,
Diga uma coisa pra mim,

Já foi à casa de quengas,
De mulheres depravadas,
Que não cuidam das crianças
E as deixam  jogadas?

Disse a agente de saúde:
Faça um favor para mim,
Vá buscar sua caderneta;
Estou aqui pra outro fim.

Depois de mexer nas gavetas,
Uma desculpa esfarrapada,
Voltou ela meio sem jeito,
Com a cara envergonhada.

Desculpe-me, se demorei;
Eu não sabia onde estava.
As crianças fazem bagunça;
Não tenho tempo pra nada.

Pois saiba, ó, minha amiga,
Sua caderneta está vazia,
Enquanto nas das quengas,
As vacinas estão em dia.

Permita-me um conselho:
Use melhor o seu dia,
Cada macaco no seu galho,
Cada mãe com sua cria.

 Hylda Marcon de Souza

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