quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Saudades do Prof. Lessa (Deixe que falem da gente)



                 Deixe que falem da gente

                                                                             
                                                                            Gilson Marcon de Souza


                                                                                           

      Quem estudou inglês comigo deve ter me ouvido falar muito do professor Lessa, autor do método Lessa, Inglês para Brasileiros (aquele do papagaio). 
        Quanta gente estudou inglês comigo por este método! 
        Pois bem, o professor Lessa já faleceu há algum tempo, mas o valor que ele dava aos professores de Inglês brasileiros, a condenação veemente ao colonialismo intelectual, a sátira aos métodos enlatados, ainda ecoam. 
        O amor que ele tinha pelo ensino e suas cálidas palavras de verdadeiro pastor de almas ainda ecoam e confortam nossos corações.
       Rev. Lessa era um pedagogo de primeira, um teólogo piedoso e, num mundo com tanta exploração religiosa e superficialidade intelectual, um verdadeiro exemplo de mistura de humildade com erudição.
       Prof. Roberto era sobrinho do famoso escritor Orígines Lessa e primo do proeminente jornalista Ivan Lessa.
       Neto do grande historiador do protestantismo no Brasil, Rev. Vicente Themudo Lessa, de quem herdou o nome, o prof. Lessa sempre evidenciava o espírito dos pioneiros daquele tipo de protestantismo que enfatizava a educação, a solidariedade, a liberdade de expressão, o estado laico (sim, já defenderam isso ferrenhamente uma vez no Brasil) e a ética do trabalho duro.
       
       O prof. Roberto foi um dos primeiros líderes ecumênicos e colocava em prática a tolerância religiosa e às minorias, tendo fundado um dos primeiros centros ecumênicos do Brasil.
       Sempre otimista, estava o tempo todo pronto pra intervir com bom humor em qualquer situação, e só ficava extremamente indignado, e até nervoso, com as injustiças, a hipocrisia e a exploração religiosa.
       Espirituoso, uma vez me contou a piada de seminário sobre a morte de um pastor homofóbico que, ao chegar ao céu, deparou-se com um veterano gay de modos afetados e disse:
      "Mas..., mas vo.. você, aqui, como, como pode isso?" Ao que respondeu a alma do senil cavalheiro, esboçando um sorriso um tanto que escrachado e esmurrando a palma da própria mão:
      "Bem feitoooo, num era pecadoooo..."
      Prova maior de seu humor inteligente foi quando dois crânios humanos, roubados do Cemitério da Consolação, provavelmente, foram depositados por algum roubador de ouro de dentes de cadáveres e colocados bem no terraço de uma de sua escolas de Inglês, em Pinheiros, onde eu dava algumas aulas.
      "Seu Roberto
,” disse eu, “olha só, deu até no jornal que tem dois crânios bem aqui na escola do senhor," referindo-me aos ossos dos pobres defuntos que, sem sossego nem na morada final, haviam sido depositados na porta de sua escola.

     "Não se importe com isso, Gilson," respondeu ele,


                     "...deixe que falem da gente...."



P.S Várias pessoas me disseram que não entenderam o que é engraçado no lance dos crânios.

Então segue uma emenda: O professor Roberto fez um trocadilho com a palavra crânio (inteligente, culto). que, no caso, éramos eu ele, é claro...


Se você foi aluno do professor Lessa, ou tiver alguma estória divertida sobre ele, ou mesmo quiser prestar uma homenagem, sinta-se à vontade em  para deixar um comentário.

Navegando pela internet, acabei encontrando este vídeo precioso: