Desde os tempos mais remotos é possível encontrar
relatos de traduções, tradutores e intérpretes. Há relatos de intérpretes no
Egito, China, Babilônia, Grécia, índia...
Foram encontradas traduções do texto mais antigo de
que se tem notícia, a Epopeia de Gilgamesh, com porções traduzidas para outras
línguas asiáticas.
Você já pensou na importância dos tradutores e
intérpretes? Já pensou como seria o mundo sem eles?
Sem os tradutores não conheceríamos a história, sem
eles não saberíamos o significado da Pedra da Roseta, não conheceríamos os
mistérios das escritas antigas dos sumérios, babilônios e egípcios, não nos
deliciaríamos com os textos clássicos dos filósofos, (que, aliás, foram bem
preservados pelos tradutores árabes), não teríamos acesso aos textos de
Confúcio e aos escritos sapiências do oriente.
Graças ao padre Anchieta, dedicado tradutor, os
brasileiros podemos conhecer mais sobre os nossos índios e suas línguas e cultura
(talvez seja esse o seu maior milagre).
Grandes teólogos, como São Jerônimo - tradutor da
Bíblia para o latim e patrono das secretárias e tradutores - e o próprio
Martinho Lutero, foram antes de tudo, exímios tradutores.
Sem os tradutores não teríamos a Bíblia, não
teríamos conhecimento de Buda, não saberíamos o que ensinou Maomé no Al Corão.
Sem eles não teríamos sequer tomado conhecimento de Sócrates, Platão e
Aristóteles.
Você já começou a imaginar como seria o mundo sem
eles? Certamente seria um mundo muito mais obscuro.
A palavra tradução vem do latim, trans (de onde derivam também as
palavras transportar, transferir) e do verbo fere (conduzir, levar). Traduzir, então, significa “conduzir para o
lado de lá, trazer para o lado de cá”.
Alguns estudiosos acreditam que a palavra em inglês
para balsa (ferry-boat) provém desse
verbo latino, outros, no entanto, fornecem outras origens. De qualquer maneira,
a analogia com uma balsa é perfeita para ilustrar o ofício do tradutor: o que
transporta, transfere, conduz de um lado para outro, o que leva e traz, no
sentido mais puro da expressão.
Algumas traduções foram tão importantes que são
citadas e utilizadas até hoje, como por exemplo, a versão da Bíblia hebraica,
conhecida como Septuaginta, traduzida para o grego por 72 eminentes rabinos
tradutores judeus e utilizada ainda no tempo de Cristo pelo próprio apóstolo
Paulo que, Justiça seja feita, mesmo que por inferência, deve ter sido ele
mesmo um notável tradutor.
O famoso
discurso desse importante expoente do cristianismo perante as autoridades
judaicas, proferido em hebraico, evidencia o fato de que ter dispensado um
intérprete o qualifica como um deles. Seus interlocutores ficaram impressionados
não apenas com seu discurso propriamente, nem com sua oratória, uma vez que ele
mal havia começado a falar, mas com a o domínio que ele tinha de vários idiomas:
“... quando ouviram falar-lhes em
língua hebraica, maior silêncio guardaram”.[1]
Numa
outra oportunidade, sua habilidade com os idiomas fez com que o próprio
governador romano, Festo, em alta voz dissesse:
“...as muitas letras te fazem
delirar”.[2]
O
grande apóstolo chegou a explicar, em uma de suas cartas, sobre a necessidade de
interpretação para que houvesse ordem nos serviços religiosos[3],
alertando sobre o caos e a desordem que poderiam sobrevir a uma
comunidade humana se as pessoas não pudessem se entender.
O caos gerado pela falta de comunicação é bem ilustrado
por outra narrativa bíblica sobre a confusão das línguas no episódio da
construção da Torre de Babel.
A tradução do Rei Tiago (conhecida no mundo de fala
inglesa como King James Version e
utilizada até hoje), é outro exemplo famoso de tradução.
Na área da interpretação, o Julgamento dos nazistas
em Nuremberg é exemplo da importância do intérprete nos episódios mais cruciais
da comunicação humana. Nesse tão importante episódio da história os intérpretes
tiveram de se organizar e criar normas e protocolos de interpretação simultânea
que são seguidos até hoje, sobretudo em esferas internacionais da mais alta importância
como a própria ONU.
Sem o trabalho árduo desses intérpretes simultâneos,
não diria que o julgamento de Nuremberg
teria se arrastado por séculos, diria que ele simplesmente não poderia ter
ocorrido.
A tradução da Pedra da Roseta fez com que Champollion
pudesse decifrar os hieróglifos e estabelecer as bases para a tradução dos
textos egípcios.
Se a importância do tradutor, no que tange a textos
antigos, é um dos legados mais importantes para a humanidade, hoje em dia seu valor
em nada decai. Com a revolução das comunicações, num momento em que a cada
quinze minutos uma profusão de textos, comparada em volume a toda a literatura
armazenada na Biblioteca do Congresso americano, é produzida, a necessidade de
tradutores e intérpretes nunca foi tão premente.
O tradutor e o intérprete estão por trás dos eventos
mais importantes do dia-a-dia, traduzindo a notícia que você leu hoje, o manual
do seu forno de micro-ondas, do seu smart
phone, do software que você
utiliza para trabalhar, dos seus livros e filmes prediletos...
O tradutor e o intérprete atuam em diversos campos,
desde tribunais e delegacias de polícia a hospitais, desde traduções jurídicas
até ao manual de equipamentos e maquinários.
Antes mesmo de ter lido a famosa definição de
Terêncio, de que a tradução era uma arte, eu já me havia convencido disso. A
enciclopédia on-line, Wikipédia[4], em sua
versão inglesa, define o papel do tradutor, como
“alguém
que transporta valores entre culturas”
e acrescenta que
“se a tradução for uma arte, é uma arte
difícil”.
Por ser uma arte, comparada com a arte de um ator,
pintor, um tradutor não precisa ter passado por uma faculdade para exercê-la,
assim como é o caso de um cantor, músico ou escritor, mas eu devo concordar firmemente que
estudar é o caminho mais curto para burilar o talento do tradutor e suas
habilidades.
Sem instrução
o tradutor é como uma pedra a ser lapidada. Com o tempo ele pode amadurecer e
tornar-se um excelente profissional (com o tempo). Mas se ele tiver a
oportunidade de aprimorar seus estudos, é evidente que, convivendo com outras
pessoas com o mesmo dom, suas habilidades serão refinadas de maneira muito mais
célere.
Lamentavelmente, o árduo trabalho do tradutor e do
intérprete não é muito bem reconhecido. Por ignorância ou falta de conhecimento,
quem sabe no afã de mostrar serviço, em muitas empresas, uma das primeiras
decisões de um gestor inexperiente, desejoso de mostrar serviço, é cortar papel
de impressora, cafezinho, feriados, aulas de inglês e traduções.
Com todo respeito às pessoas que se esforçaram para
aprender outro idioma e, reconhecendo que um profissional deve dominar outra
língua, como o inglês, por exemplo, para
comunicar-se com seus colegas estrangeiros, isso de maneira alguma o qualifica
para ser um tradutor ou intérprete.
Num nível mais preciso de comunicação, o tradutor e
o intérprete são importantes para expor minúcias de negócios, precisão de entendimento,
questões intrincadas, as quais somente um profissional bem treinado pode detectar.
Quando uma empresa dispensa os serviços de um
tradutor porque “o fulano tem um bom inglês e pode traduzir”, além de estar demonstrando
um profundo desrespeito com o próprio funcionário, desviando-o de sua função, também está demonstrando uma gritante falta
de consideração com profissionais da
área de tradução. Desconsiderar os serviços profissionais de um tradutor e
intérprete é o exemplo mais clássico de economia de palitos e, com o tempo, uma
empresa que se der ao luxo de dispensar esse tipo de trabalho acabará pagando
um preço ainda maior.
Parafraseando as palavras de Ignacy Krazisky:
(...tradução …é, de fato, uma arte tanto estimável como
difícil.)[5] Portanto, não é trabalho para qualquer pessoa.
Nossa intenção, neste blog, é de compartilhar experiências, trocar ideias, dar sugestões
e mostrar onde aprendemos com erros, além de falar de tradução, poesias e
outras estórias.
Finalmente nossa primeira dica: O tradutor não pode ficar
desmotivado com os erros, pois são eles uma das maiores fontes de aprendizado
nessa profissão.
Como a tradução é uma arte, o tradutor, desde cedo,
se sente compelido a exercitá-la.
Se você sente essa compulsão por tradução e deseja se tornar um
tradutor, a primeira sugestão é acompanhar outro tradutor mais experiente. Se
você deseja ser intérprete, comece a acompanhar estrangeiros e ajudá-los em tarefas
mais simples.
Atualmente, com dois grandes eventos esportivos no
Brasil: a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas, há uma janela de
oportunidade ímpar para aqueles que desejam seguir a carreira de tradutor ou
intérprete. Talvez esteja aí a oportunidade de colaborar, mesmo que voluntariamente,
para que o Brasil receba bem os estrangeiros e realize um evento memorável,
além de aproveitar uma oportunidade sem precedentes para começar a treinar.
Aguarde por mais dicas e sinta-se a vontade para
deixar suas sugestões, ideias e comentários no “nosso” blog.
Sejam bem-vindos e sintam-se acolhidos e abraçados
(ainda que virtualmente), pois como disse uma das mais brilhantes mentes
brasileiras (e também um tradutor):
“O
abraço é a necessidade que temos de levar um pouco dos outros conosco, e acima
de tudo de deixar um pouco de nós vivos nos braços do outro”
Ruy Barbosa
Gilson
Marcon de Souza é Tradutor e Intérprete e autor de dois livros de
expressões idiomáticas:
English
- Portuguese Expressions: Plus a Soccer Glossary
Portuguese
- English Expressions: Plus a Soccer Glossary
[1]
At. 22:2
[2]
At 26:24
[3]
1 Cr 14:13
[4]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o,
08/05/2014
[5]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tradu%C3%A7%C3%A3o,
08/05/2014
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